Ressignificação de termos preconceituosos dentro da comunidade LGBT+

Congresso Nacional (Foto: MATEUS BONOMI/AGIF/Estadão Conteúdo)

Você já deve ter percebido uma vasta mudança no comportamento das pessoas na internet quanto aos termos usados: antigamente, parecia que alguns termos ofendiam e hoje não mais. O que será que está acontecendo? Parece que as pessoas perderam a vergonha na cara e assumem seus preconceitos sem filtro algum e o pior é que as pessoas que mais manifestam estes preconceitos são as pessoas da comunidade LGBT+ consigo mesmos. Calma, isso não é preconceito. O que aconteceu nos últimos tempos foi a ressignificação de termos preconceituosos dentro da comunidade LGBT+ e que hoje trazem muito mais do que uma grande ofensa.


AS PALAVRAS TÊM PODER

Vemos diversas pessoas chamando negros de pretos, gays de bichinha, lésbicas de sapatão e tudo isso parece ofensa, não? De fato, podem ser ofensas, mas depende de quem aplica o uso desses termos. Por mais que não seja o foco dessa postagem, mas para dar um exemplo inicial, pegamos a palavra "preta": ela nunca foi ofensiva para se referir às pessoas negras, pelo contrário, essas pessoas são pretas. O que a gente pode observar é a forma que os brancos usam o termo para se referir às pessoas pretas e, dependendo do tom de voz e da forma que é dito, pode soar preconceituoso sim!

No caso da comunidade LGBT+, já vimos diversas ofensas com as palavras "bichinha", "viado", "sapatão", "travesti", etc. E dependendo de quem menciona e para quem menciona, é preconceituoso sim! O que aconteceu dentro da comunidade LGBT+ foi a ressignificação destes termos preconceituosos para uma atribuição política que reflete o orgulho de pertencer à comunidade, bem como a história destas palavras que foram usadas durante muito tempo para ofender, mas que não nos ofendem mais, afinal, temos orgulho de sermos quem somos.

Uma coisa é a comunidade LGBT+ usar estes termos entre si, em tons de conversa descontraída e com pessoas que já tem um espaço de intimidade em suas vidas. Outra coisa que caminha em direção completamente oposta é ser usada por uma pessoa assumidamente preconceituosa para se referir, humilhar ou atingir a comunidade. Nesse último caso, os termos são carregados de ódio e preconceito e seu uso deve ser barrado. Como dissemos, depende muito de quem usa e para quem usa. Não podemos sair chamando uma pessoa que não temos intimidade alguma com esses termos, já que sabemos que ao serem usados de forma equivocada causam extremo desconforto. Em contraste, conseguimos usar eles para nós mesmos e para pessoas que atribuíram essa liberdade conosco.

Voltando ao primeiro exemplo, o mesmo vale para o termo "preto" para as pessoas negras. O termo não é preconceituoso e pode ser usado tranquilamente: a diferença ocorre quando o eu-lírico é racista e usa o termo para atingir ou ofender as pessoas pretas. Perceba que não estamos falando apenas do uso do termo, mas também de sua conotação e toda a carga que ele pode carregar quando medimos e analisamos quem é o autor daquele discurso.


O QUE É CERTO ENTÃO?

Sabemos que tudo depende de quem fala e para quem está falando, né? Se desconfiamos que algum termo possa ser preconceituoso, devemos evitar o uso e questionar para a pessoa que sofreria com o uso dele se ela se sente incomodada ou não. Além disso, precisamos ter em mente que não é só pelo fato de que uma pessoa não se incomoda que isso se tornará regra para todas as outras, não!

A nossa principal recomendação é que se você não sofreu algum tipo de preconceito por determinada expressão de gênero, orientação sexual ou cor da pele, evite usar termos que podem ser interpretados de forma equivocada, principalmente com um tom de deboche ou menosprezo. Estamos passando por diversas ressignificações linguísticas, bem como estamos atribuindo significados para as nossas lutas e nos expressando de maneiras diferentes e, caso o termo seja usado sem uma reflexão, pode ser muito mal interpretado. Muito cuidado com as suas palavras que elas têm poder, mesmo que usadas da forma mais cuidadosa possível.



Postagem escrita por Luan, criador desse site, estudante e blogueiro. Graduando em Publicidade e Propaganda.

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