O feminismo no entretenimento

Série 'Skam' (Foto: NRK)

Oi gente, Parker aqui! Bem-vindos à minha quarta coluna. Primeiramente obrigada por acompanhar até aqui e se esse é o primeiro post que você está vendo dessa coluna, confira os outros clicando aqui. Cada coluna aqui tem um tema diferente que está inserido em uma esfera maior: o movimento feminista. Lembrando que o nosso próximo encontro é dia 15 de dezembro, quando sai a minha última postagem dessa série.

Essa semana eu vou falar de um tema que tem um grande papel em todos os outros que eu procurei trazer aqui. Vou discutir a representação das mulheres na mídia. Como se dá essa representação? Ela interfere nas dinâmicas sociais? De que maneira? Vou procurar tocar em pontos importantes que traduzam o impacto que a mídia e as mensagens têm sobre o conjunto social como um todo. O foco dessa postagem é na produção ficcional.


A IMPORTÂNCIA DA REPRESENTATIVIDADE

Com a licença poética de usar os materiais do meu curso, vou usar um pouquinho de Teoria da Comunicação. É inerente a natureza humana a necessidade de modelos para seguir e sentir-se parte de um todo. A gente nasce e a sociedade já está estruturada: com suas regras, normas de conduta e comportamento e até mesmo leis. Cabe a nós passar por um processo de aprendizado para se inserir, se tornar parte desse todo. Esse aprendizado é dividido em níveis e um desses níveis toma a mídia como agente de aprendizado. Da mesma forma que o indivíduo interfere naquele tipo de comunicação que produz, ele é afetado por ela.

Isso implica em dizer que todas as mensagens têm efeitos sofre nós. E algumas usam e abusam desse efeito, originando algumas formas sutis de exclusão. Por exemplo, a cultura de consumo das novelas, dos melodramas da TV aberta praticamente fabricaram uma estrutura familiar almejada e objetivada. Além disso, por mais que o audiovisual e seu padrão de consumo tenha mudado durante o passar do tempo da história da mídia, uma coisa se mantém: as estórias de ficção. 

Ficcionar é uma característica humana, inerente à imaginação, ao onírico. É um exercício de enfrentar o real através da imaginação e sempre foi assim, desde o teatro grego. O mundo real é melhor compreendido através da óptica ficcional, os espectadores têm quase que uma oportunidade de enxergar o contexto em que estão inseridos de uma outra perspectiva. 

Não só as novelas, mas praticamente todo e qualquer produto audiovisual forjam uma representação da sociedade e constrói alguns moldes aos quais as pessoas se procuram se encaixar. Mas o que acontece quando você não se vê representado nas histórias de ficção? Afinal, foi apenas em 2004 a Globo teve a sua primeira protagonista negra em uma novela, a Preta, de "Da Cor do Pecado", mais de 40 anos depois da origem das novelas da emissora. 

Por um lado, esse "apego" dos seres humanos com a ficção é negativo, pois existe pelo menos umas três gerações que cresceram sem referência alguma da realidade, consumindo histórias apenas de uma classe dominante. Até mesmo a Preta de "Da Cor do Pecado" não contracenava com nenhum ator negro de papel de destaque. A vilania das produções audiovisuais é um assunto que dá o que falar e elas já foram muito acusadas de massificar gostos, alienar as massas, contribuir para a perpetuação de estereótipos, não dar espaço para histórias diferentes, personagens diferentes. Mas isso é solucionado com um ingrediente importante, e relativamente fácil, a representatividade. 

A representatividade é importante para se enxergar em um contexto social, fabricar a lógica de pertencimento. Ter referencias de pessoas como você que são protagonistas das suas próprias histórias, que enfrentam barreiras e alcançam seus objetivos apesar das dificuldades, se ver representado na mídia, seu corpo, sua pele, seu cabelo é se ver inserido em um conjunto. Os personagens criam conexões com a gente e a vitória deles acaba sendo a nossa, as dores deles nos dizem que não estamos sozinhos. Por isso é importante que existam personagens que possam ser espelhos para as mulheres de todas as idades.


O FEMINISMO INTERSECCIONAL

Há quem diga que roteiros de ficção são "pedaços de vida". Ora, assim sendo, não deve ser difícil de trazer a diversidade, sendo ela natural e bem facilmente identificada na observação da realidade, que é material usado pela ficção. Dessa forma, é necessário que os produtos audiovisuais de ficção representem, tragam a história e o protagonismo de todos os conjuntos e intersecções da sociedade. 

Nessa reflexão entra o feminismo interseccional, ou seja, diferentes mulheres ocupando suas posições, se representando e se vendo representadas. É preciso que exista espaço, tanto para uma moça branca de olhos azuis quanto para uma garota muçulmana e uma garota com mobilidade reduzida. Já rolou uma postagem sobre isso, você pode conferir aqui. As inúmeras histórias diferentes de mulheres diversas merecem ser contadas. Todo tipo de vivência transformada em relato agrega. 

Mulheres precisam ser protagonistas e produtoras. Roteiristas, diretoras, atrizes, e precisam ser apoiadas (o famoso lugar de fala conta muito). Dê valor ao trabalho de mulheres, procure sair da zona de conforto na hora de consumir. Sinta-se livre para criar as suas próprias histórias, e seus personagens: até fanfic vale (inclusive adoro hahaha). Criar e consumir histórias de ficção podem ser tentativas para vencer e romper os próprios preconceitos.

Bom, por hoje é isso, espero que vocês tenham gostado do texto e deem chances a novas produções e novos conteúdos. Beijinhos!



Postagem escrita por Parker, colunista desse site, estudante e fanfiqueira. Graduanda em Rádio e TV. Confira todas as postagens dessa coluna clicando aqui.

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