Aceite ou não, heterofobia não existe

Série 'Sex Education' (Foto: Netflix)

Nos dias de hoje é comum observamos em diversas redes sociais comentários afirmando que a heterofobia existe. De fato, a palavra é um neologismo e passou a existir, mas o que ela supostamente descreveria não é algo baseado em verdades lógicas ou argumentos válidos. Estes comentários e falas se apoiam na ilusão de que algumas pessoas sofrem com uma espécie de preconceito inverso, somente por ter a orientação sexual heterossexual. O que não é discutido por essas supostas vítimas e que será aprofundado aqui é o tamanho da intolerância velada dentro desse termo pejorativo.


O QUE É HOMOFOBIA?

A homofobia é um fenômeno preconceituoso e catastrófico que está presente no mundo inteiro. Esse comportamento pode ser definido como "uma aversão, medo, ódio, preconceito, repugnância que algumas pessoas nutrem contra os homossexuais". Existem também os termos lesbofobia (para preconceito contra mulheres homossexuais), bifobia (preconceito contra bissexuais), transfobia (contra transsexuais) e LGBTfobia (contra a comunidade LGBT+ como um todo).

Esse preconceito está associado à uma discriminação, pode gerar violência (física ou verbal) e está ligado à ignorância e irracionalidade de quem o possui. Todos nós estamos conectados às notícias e sabemos que a comunidade LGBT+ corre, diariamente, risco de ter sua integridade física atacada por conta de sua orientação sexual. Isso significa dizer que essa é uma comunidade que deve estar em constante alerta para continuar vivendo, já que, além de poder sofrer agressão verbal e moral, violência psicológica, agressão física e agressão sexual, também é vítima de tentativas de assassinato.

Não é frescura e não é mimimi. Basta acompanhar as notícias para saber da dimensão de mortes e agressões por homofobia no Brasil. Dados de 2019 indicam que a cada 23 horas morre uma vítima da homofobia no país. Novamente, não é frescura e nem mimimi.


HETEROFOBIA NÃO EXISTE!

A heterofobia é uma justificativa do preconceito contra a comunidade LGBT+. Esses discursos surgem em contextos de oposição a iniciativas que procuram garantir direitos civis dos homossexuais e outras minorias.

Basta o raciocínio: o que a nossa sociedade estipulou como norma? A heterossexualidade, homem com mulher, é a norma social: a nossa sociedade é heteronormativa. E ninguém que é heterossexual é alvo de desprezo, hostilidade, ódio, violência e discriminação somente por ser hétero. Se o seu modo de ser fosse perseguido ou condenado, como o da população LGBT+ é, seria possível afirmar a existência da heterofobia.

Um heterossexual não sofre olhares críticos por dar um beijo em sua parceira. Ou, mais além: um casal hétero não apanha a pauladas na rua simplesmente por estar segurando a mão do seu parceiro. Alguém já viu um heterossexual ser expulso da casa dos pais somente por ser hétero? E no quesito privação de direitos? Ser heterossexual priva alguém de exercer algum direito? Desqualificação no mundo corporativo simplesmente por ser hétero? Ou ter a sexualidade considerada como doença? Não, hétero não sofre preconceito por ser hétero.

Agora, se pegarmos todos os questionamentos do parágrafo acima e trocamos as palavras "heterossexual" e "hétero" por "LGBT+" ou "homo/bi/transsexual" as respostas mudam do negativo para o positivo. E é aqui que temos o preconceito e o ódio; não na comunidade heterossexual.

Heterofobia não existe. A questão é que vivemos em uma situação em que algumas pessoas sofrem opressões e violências específicas, como o machismo, racismo e LGBTfobia. Isso quer dizer que uma pessoa heterossexual pode ser vítima de violência, mas não por ser heterossexual, como acontece com uma pessoa LGBT+.

E podemos descobrir isso com um teste rápido de três perguntas: você, hétero, já sentiu medo ou vergonha por causa da sua sexualidade e da sua identidade de gênero? Já sofreu algum tipo de violência física, verbal ou psicológica por causa disso? Precisou sair do armário alguma vez na sua vida? E é por isso que não existe heterofobia. Pessoas LGBT+ ainda precisam lutar pelo direito da própria vida, à liberdade de ser quem são, de amar quem amam. E uma pessoa hétero, não.



Postagem escrita por Luan, criador desse site, estudante e blogueiro. Graduando em Publicidade e Propaganda.

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