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Filme 'Sem Limites' (Foto: Relativity Media) |
Filosofia. O que é isso, e pra que serve? Um monte de velho branco chato, escrevendo só pra se achar esperto. Será que é isso mesmo? Resposta curta: Às vezes, mas não. Resposta longa: É complicado. Várias pessoas tentam responder o que é Filosofia, batendo a cabeça na parede desde a Grécia Antiga. Pra que continuar tentando responder isso? Pra que serve, afinal, se não dá pra chegar num consenso, depois de tanto tempo, talvez não tenha uma resposta fixa. Bem, é sobre isso que se trata a Filosofia: Questionar. E se dá pra ver um sentido em questionar, dá pra ver um sentido pra Filosofia.
Isso é o que quero que esse texto faça, questionar! Mas tem uma coisa, não dá pra sair achando que tá filosofando só por não acreditar em nada que dizem, ou só de inventar doideira na sua cabeça. A Filosofia é pra questionar, mas também pra analisar, pensar sobre conceitos e ideias com pretensão de fazer toda uma rede de conceitos, todos ligados, conectados, pensar nessas conexões, e questionar elas também.
Nesse pequeno artigo e coluna, quero fazer vocês se colocarem nesse lugar do Filósofo, do Questionador (não do velho branco chato). É assim que você pode melhorar sua vida com a Filosofia, e é isso que eu quero mostrar. Ok, então vamos começar?
ALGUMAS EXPLICAÇÕES
Não quero de jeito nenhum ficar parecendo um professor, mas pra começar a falar de Filosofia vou ter que explicar umas coisinhas, e agora vou falar da minha própria experiência. A primeira coisa é que, pra começar a olhar pra Filosofia, sempre parece que tem alguma coisa que você precisava ter lido pra entender. Todos podemos concordar que isso é um saco. Com o pouco de tempo que a gente tem, e quer tentar entender aquele livro daquele filósofo que pareceu legal, parece que é tudo doidera sem ter lido o outro livro, que precisa de outro livro pra entender, e assim vai. Não dá tempo de ler tudo isso, muito menos de entender! Mas aí está a coisa, não dá mesmo. Tenha em mente: Você não vai ser professor. Se fosse ser um aluno cursando e querendo exercer Filosofia como profissão, isso seria seu trabalho, e o que você teria de fazer! Mas você é uma pessoa curiosa sobre como a Filosofia pode te ajudar. Por isso, não tenha medo de procurar alguma coisa fácil pra poder entender o que está lendo. Não tem problema em pegar algum resumo de fonte confiável pra poder entender o que você quer entender. Veja algum vídeo sobre o que você vai ler antes, leia alguma resenha, não fica com medo até de olhar a Wikipédia. Se você tem interesse em questionar e analisar, só de ler um resumo já se está pensando. Filosofia não é pra qualquer um, e você tem que ter coragem e força de vontade pra poder pensar na sua própria vida e aplicar o que pensou pra poder se ajudar. Não é fácil se analisar e analisar tudo a sua volta assim, então não fica achando que precisar de um resuminho tira seu valor. Todo mundo precisa de um resuminho. Pra ajudar, vou deixar algumas fontes no fim do texto que explicam de jeitos bem didáticos e simples, pra começar.
Segunda coisa: Tem gente que escreve difícil mesmo. É sacanagem? Um pouco. Dá pra ver isso nos textos de gente bem importante, tem até uma briga dentro da filosofia sobre isso mesmo. Tem até filósofo que reclama disso! Uma escola de pensadores, da Filosofia Analítica, preza pela clareza que muitos outros, tipo o Hegel, não tem. Mas, mesmo que o que eles escrevem seja quase incompreensível, as ideias deles ainda têm valor. Repetindo o que já disse, você não vai ser professor. E ainda assim, professores passam anos estudando pra dar aula. Não dá pra pegar um catatau enorme tipo o 'Fenomenologia do Espírito', do Hegel. Mas, se todo mundo fala tanto dele, deve ser importante! Faça sempre um esforço, mas não se culpe se não entender. A maior parte dos textos é difícil mesmo. Falei e repito: resumos! Coisas didáticas são muito práticas. Se você quiser pensar na sua vida com os conceitos da Filosofia, não tenha medo de precisar de ajuda. Já dizia Clóvis de Barros Filho, "Você tem Brio?"
UM EXEMPLO - A HISTÓRIA DA RAZÃO
Agora um exemplo de como a Filosofia pode ser útil, vou dar um resuminho da história da ideia de 'Razão'. Como assim da ideia de Razão? Bem, a Filosofia normalmente procura perguntar o que algo é, como é, e porque. E perguntam essas coisas sobre tudo. Já parou pra pensar, por exemplo, que até contar até dez é uma construção social? Os jeitos que a gente mede quantidades de coisas são baseados e construídos socialmente. Eles são baseados em ideias que existem de fato, o conceito de números, mas o jeito que pensamos neles é construído. Tem um povo indígena aqui no Brasil, os Pirahã, a língua deles só tem o conceito de maior ou menor quantidade, mas não de números. Ou seja, eles só têdm palavras pra 'menos quantidade' ou 'mais quantidade' de alguma coisa, mas não de 'três, quatro ou cinco' de alguma coisa. Por exemplo, quando apontam pra duas pessoas dizem algo como 'menos pessoas', depois pra cinco pessoas, 'mais pessoas', sem diferenciar exatamente quantas. Quando alguns antropólogos tentaram ensinar pra eles o basicão de matemática, nível de fundamental, os Pirahã praticamente não conseguiram entender o conceito de números, nem pra que serviam. Muitas das coisas que achamos que existem independente dos humanos, só existem porque nós compreendemos e as construímos. Por isso, é importante pensar em todos os conceitos, até nos que achamos que existem só porque sim. É importante pensar no que são, em como são, e porque são como são, e é aí que entra a Filosofia.
Voltando à 'Razão'. A Razão pode ser um jeito de organizar pensamentos, uma forma de chegar a conclusões de um jeito ordenado. Mas como ela opera? Ela existe naturalmente ou é formada na nossa cabeça? Alguns filósofos, como o Descartes, os inatistas, dizem que nascemos com ela, e com outras ideias universais. Ou seja, acham que a Razão e essas ideias existem independente de nós. Outros, como o Hume, os empiristas, pensam que nossas experiências se repetem, e assim percebemos padrões, que são organizados e formam a Razão. Assim, a Razão e as ideias seriam todas formadas pela experiência, ou seja, seriam formadas ao longo da vida. Em resumo, uma filosofia era o oposto da outra, e a briga entre elas durou bastante tempo. Os dois lados tinham seus fortes e fracos, mas ninguém chegava numa conclusão, ninguém ganhava, ninguém perdia, ficava tudo meio igual. Isso até chegar o Kant, que tentou conciliar os dois lados: ele disse que a Razão é a forma de organizar pensamentos, nasce com a gente, e o conteúdo dos pensamentos vêm da experiência, ao longo da vida. Assim, ele sintetizou as duas formas de pensar.
Você deve tá pensando, tá, e daí? Como isso me ajuda? Vem comigo mais um pouco. Lembra quando falei de gente que escreve difícil e falei de um cara, o Hegel. Ele é bem importante, beeeem importante, até hoje. Ele respondeu o Kant também. Kant achava que a Razão nasce com a gente, então é Universal, igual em todas as pessoas em toda a história humana. Era bem a cara dos pensadores da época de ele achar que tudo é Universal e que estavam revelando todas as verdades do mundo. Aí chegou o Hegel: A Razão é a História. Como assim? O Hegel achava que a história é feita de tempos com ideias opostas: uma depois a contrária, a Tese e Antítese. Assim, a história seria como um pêndulo, indo de um lado pro outro, a história é sempre um vai e vem. Ele achava também que a Razão é quem resolve essas contradições, com o tempo, pegando o melhor dos dois lados, da Tese e da Antítese, transforma as duas ideias em uma ideia totalmente nova, faz uma nova e melhorada ideia, chamada Síntese, uma mistura do melhor das duas anteriores. A Razão transforma os tempos de Tese e Antítese em tempos de Síntese. Mas aí está a questão, a Razão é quem fez essas ideias que moldaram a história. A Razão oscila de um lado pro outro, e cria essas ideias opostas em tempos opostos. A Razão é quem cria as ideias nos tempos de Tese e Antítese. Aí é que entra a grande questão: como Razão pode ser tão diferente ao longo do tempo? O titio Hegel foi o primeiro a pensar que a Razão não é Universal, não é sempre igual, é um processo, e é com ela que surge a História. A Razão É a história. Você pode estar pensando. Que? Eu falei que era meio complicado. Mas resumindo: a Razão faz com que a gente vá de um lado pro outro, até chegar no meio no final, e ficar tudo bem.
Aqui finalmente chega à parte que te toca. O que posso tirar disso? Bem, se pararmos pra pensar sobre o que tudo isso significa, dá pra perceber que o Hegel era um otimista. Ele acreditava que o sofrimento faz parte da história, mas é com ele que se pode crescer. Ele pode nos ajudar a ser mais imparciais, e aprender com ideias que não concordamos. Ele pode nos ajudar a aceitar que as coisas não são fixas, e que é tudo é um processo. Hegel acreditava que tudo se resolve no final. Por meio da Razão e do pensamento, que são um progresso, sempre se chega em uma conclusão boa. Pensamentos, opiniões e conclusões mudam conforme as coisas acontecem. Talvez, naquela vez que você errou, sua Razão fosse diferente de hoje. Quem sabe daqui um tempo você não ache aquele erro tão ruim? O importante é que, depois de muita luta, tudo acaba em um ponto bom pra todo mundo. As tensões se resolvem, e se pode aprender com a história.
É tudo uma questão de como você aplica a Filosofia na sua vida. Uma olhada nessa ideia do Hegel, chamada de dialética, pode te ajudar a resolver seus próprios problemas. Questione e analise: quais as oposições e tensões na SUA vida? Com a reflexão, dá pra chegar no que pode ser uma síntese. Cabe a você dizer qual é a síntese. Chegada essa conclusão, sua vida pode progredir. Depois, pode ser que você mude de ideia de novo, que tudo fique pior, mas se ficar ruim outra vez, é porque é sua vez de chegar numa nova síntese. Mas ela precisa de você e da sua capacidade de usar a Razão pra organizar todos os elementos da sua experiência. A Filosofia dá uma forma de pensar, e você coloca o conteúdo.
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Espero muito que não tenha soado pedante ou tenha sido chato! Lembrando que isso aqui é um resumão, e é sempre importante que vocês tentem entender o máximo que podem de várias fontes, dos textos originais se conseguirem. Também, existe gente que já respondeu ao Hegel, muita gente. É trabalho da Filosofia questionar, afinal. Eu de coração quero que vocês percebam quanto valor existe em questionar. É sempre importante se perguntar o que você é, como é, e porque. É um processo difícil, e às vezes pode ser que não dê em nada, mas você não pode parar de tentar. Aplicar a Filosofia na sua vida é difícil, mas é transformador. Na próxima postagem vou falar um pouco de uma escola de pensamento bem nova: Teoria Queer! Espero que tenham gostado, e que tenham ganhado um pouco de coragem. Vou deixar os textos que usei de base pra escrever esse para vocês darem uma olhada. Até mais e Sapere Aude!
- Texto base principal: Convite à Filosofar da Marilena Chauí. É bem grande, mas é super didático! Recomendo muito pra um compilado geral da história da filosofia e de vários dos principais tópicos;
- Vídeo sobre o Hegel nos dias de hoje. Esse canal é maravilhosooo, tem vídeos de vários assuntos legais, desde relacionamentos até filosofia e literatura. A maioria tem legenda;
- Vídeo do Brio do Clóvis de Barros Filho. Esse é o Meme, que é muito bom. Aqui tá o vídeo completo, que é muito motivador e inspirador;
- Um canal legal de Filosofia, chamado Philosophy Tube. Esse vídeo é sobre o Hegel também, mas sobre outro assunto, a Dialética do Mestre e do Escravo. Alguns dos vídeos não têm legenda, mas grande parte tem;
- Fonte sobre os Pirahã. Recomendo muito procurar esse povo na Wikipédia, é doidera.
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