Existencialismo


Filme 'A Chegada' (Foto: Sony Pictures)
Filme 'A Chegada' (Foto: Sony Pictures)

Preparade pra quebrar a cabeça? Sim, leitore, hoje eu já comecei assim porque nosso tema é daora. Vou contar um segredo, que foi o que aconteceu comigo e mais alguns amigos: o tema de hoje é o que faz muita gente entrar pra filosofia. Tipo, entrar de verdade, ir ler os livros fonte, ver palestras e tal. Nosso querido tema de hoje pergunta: qual o sentido da vida? O que fazer nesse mundo? Quem somos nós? Quem sou Eu??? Tô fazendo muito mistério, mesmo sabendo que o título do artigo já fala sobre o que é. Eu gosto bastante desse tópico então queria fazer um draminha e o texto é meu e eu faço o que eu quero, hehehe.

Mas agora vamos lá, sem mais demora: Bem-vinde leitore, ao nosso tema de hoje: Existencialismo! 


O QUE É EXISTENCIALISMO?

Como sempre, temos que definir um monte de coisas antes de entrar no papo. É um saco, mas tem que fazer. Vamo lá: o Existencialismo é um rótulo genérico para vários filósofos do século 19 e 20 que discutem a Existência. Muitos deles inclusive rejeitam esse nome, mas a definição colou, é útil pra falar deles todos em conjunto. Continuando, como assim eles discutem a Existência? Bem, os filósofos falaram bastante sobre várias coisas, já falaram da racionalidade, da ética, de estética, etc… mas será que falaram sobre o próprio ser? Tipo, por mais que tenha discutido todos esses temas, como essas coisas se constituem e tal, estava faltando a filosofia falar sobre o que constitui ser um humano.

Isso parece meio brisa, e na verdade é mesmo. É filosofia, quer o que? Enfim, no fim do séc. 19, tava todo mundo meio de saco cheio desses filósofos. O pessoal queria ver ciência, queria ver invenções, coisas materiais que pudessem tocar, mexer, que ajudassem no cotidiano. Enquanto isso, a filosofia continuava essencialista, o que era dito era regra, e o mundo não era mais assim. O séc. 19 foi cheio de transformações na vida intelectual e na vida material das pessoas, foi uma mudança mesmo de espírito. Não dava mais pra dizer que a vida de uma pessoa já estava determinada e pronto acabou. As pessoas não estavam mais tão amarradas a tradição, podiam inovar e experimentar. As pessoas tinham mais liberdade que nunca em suas vidas. Não queriam mais saber de universalidade, ou seja, um monte daquela filosofia tradicional ficava meio pra trás. Por isso, vários filósofos começaram a pensar: será que dá pra colocar uma regra nesse monte de novidade? E assim começa o pensamento que depois se chamaria existencialista.


DOIS CARAS COM NOMES EXÓTICOS

Duvido ler em voz alta três vezes rápido: Nietzsche e Kierkegaard. Esses dois plantaram a semente do que viria a ser o Existencialismo. Mas quem eram esses daí? Talvez você já tenha ouvido o nome do primeiro, talvez até associe ele a uma galera meio chata na internet. O Nietzsche é um cara revolucionário, no sentido de que ele viu toda a filosofia antes dele e basicamente falou: não. Mas muita gente acha que o bigodudo é super deprimente e usa ele como desculpa pra poder ser chato. Isso é o total contrário da obra do cara, é interpretar tudo errado. Aí vai uma das coisas importantes do pensamento dele: Nietzsche não é deprimente, é libertador! Ele pode dizer que nada tem sentido, que nossos líderes são bem babacas, e que as pessoas são todas fracas, mas ele vê o lado bom de estar sozinho nessa vida: Você cria seus próprios valores. Ele vira tudo que é ruim de cabeça pra baixo, e faz você enxergar o infinito de possibilidades que o mundo te oferece. Isso é uma boa base pra o pensamento existencialista em geral, mas apesar de ser inspiração, ele não é de verdade existencialista.

Já o Kierkegaard, esse sim é o fundador desse treco todo. O existencialismo de fato começa por ele, os temas que ele trata tem de verdade relação com a existência diretamente. Vamos começar: no primeiro artigo da coluna, falei de um cara chamado Hegel, é tipo o famosão dos filósofos na época dele (e na nossa também, não dá pra fugir). Ele falava que tudo tem um sentido determinado no contexto, que tudo já tem um propósito lógico pré-definido, e que a história toda está indo pra um lugar perfeito e racional. O Kierkegaard discorda, e diz que isso não leva em conta a liberdade de escolha das pessoas. Como assim tudo já é definido se sou eu que decido o que faço hoje, se sou eu que escolho como vou viver minha vida? Isso é uma virada importante, porque para de pensar só no Universal, e começa a pensar no Subjetivo. Nossa intimidade, nossos sentimentos, toda experiência é subjetiva, e toda decisão também é. Assim Kierkegaard rejeitou que somos determinados, de qualquer forma.

Mas aí surge um problema: como lidar com a liberdade? Quando nós tínhamos um papel definido pela tradição, quando a gente nascia, crescia e morria com um plano de vida implantado na cabeça, a gente não questionava. A partir do momento que eu tenho poder de escolha, eu fico nervoso sobre qual escolher. É um nervosismo normal, todo mundo passa por isso. Todo o peso das escolhas está em mim, isso deixaria qualquer um preocupado. Aí, depois que você inevitavelmente tem que escolher uma opção, você fica encucado pensando se a outra escolha era melhor. E isso continua até o fim da vida. Legal, né??? O Kierkegaard inventou um nome pra essa sensação: Angústia. Com certeza ela você conhece e já passou por um momento assim, afinal, todo mundo passa. Na verdade, de tanto que o ser humano é angustiado, o Kierkegaard diz que a angústia é parte fundamental da existência humana.


O QUE FAZER COM A ANGÚSTIA?

Até agora tá tudo bem ruim. A gente tá rodeado de angústia sem saber o que fazer com ela. Mas ok, existe resposta pra essa pergunta. O próprio Kierkegaard dá uma resposta religiosa, que temos que dar um salto de fé e confiar tanto em nós mesmos quanto em Deus. Ele era cristão, e a resposta é realmente muito bonita de se pensar, mas tem gente que não gosta tanto, ou simplesmente que não é cristão. Por isso, vou falar de outro cara: Jean-Paul Sartre. Nosso querido João Paulo lia um pouquinho, ouvi dizer que só 200 livros por ano. Inveja. Além disso, o existencialismo de Sartre é uma das formas mais populares desse pensamento. Outra curiosidade: a esposa dele era ninguém menos que a Simone de Beauvoir! Ela era uma anja feminista, lançou um livro chamado "O Segundo Sexo", um dos mais importantes do feminismo até hoje. Casalzão.

Enfim, vamos lá. O Sartre dizia que a gente existe sempre em um tempo e um lugar. Óbvio, e precisou ler 200 livros por ano pra isso. Mas espera, porque isso significa que, diferente tanto do Hegel quanto do Kierkegaard, o Sartre era materialista, considerava as condições em que as pessoas estão como fator determinante de como agem. Ou seja, ele não era igual o Hegel, que acreditava que todo mundo está praticamente determinado a agir de um jeito por causa de uma racionalidade universal, ou igual o Kierkegaard, que acredita que somos quase totalmente livres. Sartre diz que as opções que se oferecem para escolhermos são limitadas, mas a escolha em si é livre. Dentro das opções quase determinadas que nós temos em nossa vida, nós somos livres para escolher. Daí a famosa frase: "O importante não é o que fazem do homem, mas o que ele faz do que fizeram dele". Mas aí nós voltamos a outro problema: igual o Kierkegaard, Sartre percebe que não temos saída senão fazer escolhas. Por mais livres que sejam, nós carregamos o peso de ter que escolher. Daí mais outra frase famosa: "O ser humano está condenado a ser livre". E agora fica a questão, o que fazer com tanta angústia?


A RESPOSTA?

Todos preparados? Aqui vai: O que fazer com a angústia? Aceitá-la. Parece bem anti-climático, mas olha, a angústia é o que nos faz humanos. Sem ela, nós estaríamos presos a um propósito maior, que a gente nasce cresce e morre pra cumprir. A angústia nos faz prestar atenção na nossa vida. Lembra do Nietzsche, que falava muito sobre se abrir pras possibilidades? A angústia nos abre para que vejamos e avaliemos todas as possibilidades que o mundo nos oferece. No fim das contas a resposta tava no Nietzsche. Sim, a angústia pode ser ruim, e ela pode doer. Mas, mesmo que ela machuque, ela é o jeito de criar nosso próprio sentido pra vida. Ninguém manda em você, e ninguém nunca vai mandar. A pessoa mais importante da sua vida é você, e a angústia te lembra disso. Lembre da frase do Sartre, "O importante não é o que fazem do homem, mas o que ele faz do que fizeram dele". Se você sente angústia, o importante é se perguntar: o que VOCÊ vai fazer com a angústia?

E é isso! Espero que tenha você tenha refletido um pouco sobre a importância que você tem na sua própria vida. Sempre seja o melhor que você pode ser, explore suas possibilidades. Mês que vêm nos vemos de novo, num texto leve, sobre séries e filmes com temas filosóficos. Até lá, e cuidem-se. 

Esse aqui não tem texto base principal, só vou recomendar várias coisas diferentes! 


Postagem escrita por Ricardo, colunista desse site, escritor e paz & amor. Graduando em Letras e Publicidade e Propaganda. Confira todas as postagens dessa coluna clicando aqui.

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