Entenda uma coisa: vidas pretas importam

(Foto de SILVIA IZQUIERDO publicada no El País)

Difícil entender, né? A nossa sociedade não consegue absorver que vidas pretas importam e o que precisamos entender enquanto brancos.

George Floyd foi um homem brutalmente assassinado, vítima da violência racista de policiais em maio de 2020 nos Estados Unidos, completando um ano após sua morte neste mês. O caso repercutiu internacionalmente e associou-se ao movimento Black Lives Matter (tradução: Vida Pretas Importam). Em resumo, a história de George Floyd retrata o que a comunidade preta sente na pele diariamente: o racismo, seja ele de forma estrutural, física, falada ou velada.


O MOVIMENTO BLACK LIVES MATTER

Muitas pessoas acreditam que o movimento Black Lives Matter surgiu com a morte de George Floyd: não! O que aconteceu com George foi um marco que trouxe diversas manifestações para as ruas e redes sociais em 2020. O movimento BLM surgiu em 2013 por ativistas norte-americanas e atualmente funciona como uma fundação global com missão de "erradicar a supremacia branca e construir poder local para intervir na violência infligida às comunidades negras". Em outras palavras, o movimento luta contra a brutalidade policial norte-americana e se transformou em um movimento global em busca dos direitos da população preta.

No Brasil, o movimento se intensificou no ano passado com casos de crianças (Ágatha Félix de 8 anos e João Pedro Mattos de 14) que foram brutalmente assassinadas pela violência policial e impunidade do país. Por mais que demoramos para nos movimentar, diversas pessoas como Djamila Ribeiro (acesse seu conteúdo clicando aqui) e Marielle Franco estiveram a frente de manifestações e promoveram debates sobre o assunto. Em um estudo feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, das vítimas de homicídios, os negros são 75,7%; no mesmo estudo, conclui-se que o assassinado de pretos aumentaram 11,5% e de não-negros caiu 12,9%.


RACISMO INSTITUCIONAL

O racismo institucional ocorre através de instituições públicas ou privadas, como sugere o nome. Ele ocorre através da diferença de tratamento, distribuição de serviços ou benefícios de um determinado grupo de indivíduos para com outro. Traremos alguns exemplos de situações de racismo institucional:

  • Serviços de saúde: o maior índice de mortalidade na gravidez - no parto ou no pós-parto - acontece com mulheres negras com causas que poderiam ser evitadas. Isso ocorre por não serem bem atendidas no sistema de saúde. Percebe-se que médicos brancos pedem menos exames e atendem em menos tempo quando comparado com uma mulher branca, dando menos atenção;
  • Segurança pública: ocorre através das corporações policiais que dizem proteger a população, mas é a que mais mata pessoas pretas sem motivo algum, como se estivessem em situação de guerra. Além das mortes, pesquisas do Data Favela exploram que a violência contra os pretos pelos homens fardados acontecem também pelo desrespeito, agressão verbal, física ou extorsão. Tal fato é comprovatório quando essas pessoas são ouvidas e informam que sentem medo de interagir com "os homens da lei" em situações cotidianas;
  • Educação: pessoas pretas não tem o mesmo acesso ao ensino que as pessoas brancas têm. Percebe-se que houve uma mudança nos últimos 15 anos com a aplicação de ações afirmativas (cotas) e mais pessoas pretas conseguiram alcançar o ensino médio, universitário e pós-graduação. Mesmo assim, a presença preta é imensamente menor que a parcela branca. Basta abrir os olhos e reparar ao seu redor: estudante de ensino superior, quantas pessoas pretas tem em seu campus da faculdade?
  • Ambiente corporativo: de acordo com pesquisas do IBGE, a população preta é que mais está desempregada no país, sendo eliminada de processos seletivos por não alcançar o padrão estético de funcionário que as empresas exigem.

RACISMO ESTRUTURAL

O racismo estrutural pode ser resumido em um conjunto de hábitos, falas e práticas que estão presentes no nosso cotidiano que promovem a segregação e o preconceito racial. O principal exemplo para essa situação são falas e termos nossos que usamos e que são racistas, fazemos piadas que associam negros a situações humilhantes ou criminosas ou quando desconfiamos da índole de alguém por sua cor da pele.

Podemos dizer que um exemplo da manifestação do racismo estrutural ocorre quando buscamos nos referir às pessoas pretas como "morenas" ou "pessoas de cor". Outra associação ocorre quando estamos em nossos carros e uma pessoa branca pede dinheiro no semáforo: muitos indivíduos dão o dinheiro ou dizem que não tem. Quando é com uma pessoa negra, o motorista e passageiros já fecham os vidros. O mesmo ocorre quando encontramos uma pessoa negra em uma loja de roupa e temos em mente que ela é a vendedora, mas muitas vezes também é uma compradora. O racismo estrutural surge exatamente nesses casos que julgamos e tomamos conclusões precipitadas e preconceituosas sobre uma pessoa nos baseando em sua cor.


RACISMO REVERSO

O racismo reverso é um discurso usado por pessoas brancas para inferir que existe o preconceito contra as pessoas não-negras. Isso não existe! Não existe pelo fato de que as pessoas brancas não sofreram explorações da sociedade, redução de salários pela cor da pele, dificuldade ao ensino superior pela inacessibilidade à educação ou perseguições culturais pela justificativa de sua raça.

Em poucas palavras, o racismo reverso prega que as pessoas brancas sofrem e são perseguidas apenas por serem brancas, o que não é verdade. Para confirmarmos isso, basta pegarmos um livro de história para entender que nunca houve tal comportamento em qualquer civilização.


SOMOS TODOS RACISTAS

Nós somos racistas e precisamos admitir isso. Precisamos embarcar na luta antirracista e entender, em primeiro lugar, que nós temos atitudes racistas individuais e coletivas. Para isso, precisamos consumir mais conteúdo de pessoas negras e que falam do assunto com propriedade. Em meu caso particular, não sou preto e não tenho propriedade para tratar o assunto, justamente por isso fiz diversas pesquisas no decorrer do mês para escrever este texto e consultei pessoas que entendem na pele o que estamos falando.

Como pessoas, precisamos entender todas as atitudes que temos e compreender aquelas que estão erradas. A melhor forma de ter conhecimento do erro é convivendo com pessoas que já estão nessa luta, consumindo livros, podcasts, filmes e documentários que abordem o assunto e reconhecermos que sim, somos racistas.

Precisamos entender que a nossa sociedade não tem oportunidades para pessoas pretas: pedimos para você se questionar quantas pessoas negras existem no campus de sua faculdade, para mais, quantas têm no seu ambiente de trabalho e em quais cargos? Quando pensamos dessa forma e abrimos os olhos, percebemos que existem cargos que já são destinados para pessoas pretas e outros para pessoas brancas, não? Os brancos concentram-se nas cadeiras dos escritórios enquanto os pretos limpam suas sujeiras ou aparecem apenas para servir alguém (empregadas domésticas, porteiros, lixeiros), nunca para traçar estratégias para uma empresa ou tomar decisões em uma cadeira de couro do escritório.

Como sociedade, precisamos embarcar na luta antirracista e defender representantes políticos que tenham este discurso em seu plano de ações. As cotas, por exemplo, foram importantes para dar acesso às pessoas pretas ao ensino médio e superior, mas ainda não são suficientes. Precisamos buscar outras estratégias, participar de movimentos, saber ouvir e reconhecer o nosso erro praticado de forma individual e coletiva e estar presente na luta com quem realmente sabe pelo que luta. Angela Davis, militante e professora dos Estados Unidos, já dizia que não basta não ser racista, mas também é necessário ser antirracista. O combate pelo racismo não acontece somente pelos pretos, mas precisamos ter a consciência que devemos embarcar nessa luta diária também. Além de escutar, dar voz, oportunidades, ter empatia e defender, precisamos entender que a nossa sociedade é desigual e que somos extremamente privilegiados pela cor de nossa pele e, para isso, buscar por políticas públicas que contribuam para a real transformação da sociedade.



Postagem escrita por Luan, criador desse site, estudante e blogueiro. Graduando em Publicidade e Propaganda. Colaboração de Aline: amiga próxima do autor que ajudou na construção e revisão da publicação.

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