Amor próprio e autoestima

Série 'Stranger Things' (Foto: Netflix)

A postagem de hoje é provavelmente uma das que eu estava com mais vontade de escrever, ando planejando e pensando nela por meses - sem brincadeira - e finalmente chegou a hora! O motivo de tudo isso é porque significa muito pra mim e sei que é um assunto que interessa muitos de vocês também, a importância de falar sobre é gigante, né? Até porque quem nunca teve problemas de autoestima que atire a primeira pedra. Essa é mais uma postagem da coluna “Coisas que você não sabia que precisava escutar até escutá-las”, espero que goste, caro leitor. Você pode conferir a última postagem clicando aqui.


MAS ANTES, CALMA

Acredito que não seja necessário ficar com grandes rodeios explicando sobre problemas com autoestima visto que a grande maioria já passou ou passa, de maneiras e em intensidades diferentes, por tal, certo? A intenção dessa postagem é que seja um diálogo íntimo contigo e que possa - de alguma forma - te ajudar nesse processo, lento e dolorido que é o de tentar superar a baixa autoestima, porque, acredite, sei bem como é. 

Antes de tudo pretendo deixar bem claro que não sou nenhuma psicóloga com embasamento científico metodológico para falar sobre esse assunto e nem nenhum Narciso ou Kanye West com amor próprio exalando pelos poros; ou seja, a não ser que tu seja um dos desses dois ai, é realmente uma troca honestona e casual entre duas pessoas reais com problemas reais, viu? Mas, apesar da falta do diploma - e apesar do parágrafo acima ter dito que não me prolongaria em teorias - posso e devo dizer que problema com autoimagem não é só sobre corpo e aparência não, viu? Tem toda uma dimensão subjetiva muito maior que apenas o físico: não se sentir útil, não conseguir reconhecer vitórias pessoais, se sentir perdido na própria personalidade, não se sentir merecedor das coisas boas, se sentir inferior aos outros, autocobrança excessiva, duvidar das próprias capacidades e inteligência e por aí vai, é muito além de não se sentir confortável na própria pele e bonito suficiente. 

Esclarecido tudo isso, vamos para o que realmente importa: como lidar e como conduzir o processo cansativo de trabalhar o amor próprio e fazer com que esse seja o menos duro possível? 


HASHTAG DICAS 

Lidar com autoestima baixa, por si só, é uma barra difícil de aguentar, e como se viver em constante luta consigo mesmo e com a imagem refletida no espelho não fosse complicado o suficiente, tentar superar esse problema pode ser igualmente turbulento: há uma cobrança pessoal de que devemos nos amar completamente o tempo todo e que temos que superar de uma hora para outra, quando o processo está lentamente caminhando e às vezes temos recaídas nos sentimos mal e nos questionamos se estamos mesmo fazendo certo, pressões externas para que superemos logo tal como “nossa mas tu é lindo demais, como assim tu não vê isso? Deveria agradecer ao invés de ficar ai se lamentando”, pessoas sem noção atrapalhando todo o andamento com comentários machucam e, meu anjo, isso foi só pra citar alguns de muitos exemplos. Realmente não é fácil não. 

A caminhada é dura, mas desistir dela não é aconselhável, porque no “final” vai dar certo e vai valer a pena demais, confia em mim. Aspas na palavra final por motivos de que não existe um final, autoestima não é um jogo em que há um nível ultimato elevado que tu alcança e termina o jogo por ai, um nível final em que completamente tudo está bem e em total equilíbrio, é um processo de construção diária e infinita com altos e baixos a todo tempo, por isso que não pode haver uma autocobrança tão pesada para que seja linear e sem regressos e sem desmoronar de vez em quando, nada sobre o ser humano é constante do jeito que gostaríamos, aceitar que está tudo bem e é normal cair de vez em quando é fundamental. Ninguém se sente bonito e incrível todos os dias, é sobre nuances. Alcançar amor próprio é uma luta diária que leva tempo - sempre tudo no seu tempo - e que nunca acaba, é improvável conseguir amar tudo em si próprio, e é por isso que é tão necessário construir uma base em que tu possa amar tudo que tu representa para si mesmo. Deve se lembrar também que tu não deve fazer isso por ninguém além de si mesmo, deve buscar a boa autoestima pra você mesmo então não prove nada pra ninguém, não se desgaste tentando mostrar e provar para os outros seu avanço, se alguém fizer comentários que te machuquem sobre todo esse processo ou que possam atrapalhá-lo tente se proteger e ignorar, essas pessoas não valem a pena seu esforço.

Fazendo um link descarado com minha última postagem - e aproveitando para pedir descaradamente pra tu ir lá conferir clicando aqui - já parou pra pensar como baixa autoestima e falta de autoconhecimento podem facilmente estar relacionados? Como esperar que possamos amar algo que quase não conhecemos? Somos praticamente estranhos a nós mesmos, não nos enxergamos naquilo que somos, fazemos comparações constantes com outras pessoas, queremos exigir que alcancemos padrões inatingíveis. Não nos sentimos parte de nós mesmos, talvez se conhecêssemos mais a fundo nossas particularidades tão naturais e únicas poderíamos nos apreciar mais por estas e parar de procurar se encontrar em outras pessoas ou em uma perfeição criada pelo imaginário social ou pessoal. 

Já que a busca por amor próprio demanda tempo e pede por baby steps, ou seja, passinho por passinho, porque não tentar isso, se conhecer e se perceber, como o primeiro passinho? Fomos ensinados a não nos amar, condicionados a pensar que se admirar e se contemplar são atos de soberba e de gente que “se acha”, temos que quebrar esses paradigmas e começar a reparar em nós mesmos sim! Nada muito chocante logo de cara, só se perceba e procure achar algo em si que tu acha legal, nem que for um único dente, uma pinta que você acha engraçadinha, sua habilidade para desenho, ou para contar piadas tão ruins que acaba por fazer os outros rirem, seu cabelo que se dobra todo em cachinhos que parecem os cachos do cabelo sua vovó, sua mão fofa, sua habilidade culinária ou a falta dela que te permite fazer o melhor brigadeiro queimado da região, ou seu bumbum naturalmente redondinho que tu sempre achou massa mas nunca teve coragem de admitir por ter impressão de que estaria “se achando”. Permita-se apontar o que acha belo em si, tente achar coisas em você e sobre você que te fazem se sentir especial, coisinhas que só tu tens e te fazem único; desenvolver o sentimento de que temos pelo menos algo que nos reconhecemos como nós mesmos naquilo e que conseguimos apreciar é importante para todo o processo.

Descubra coisas novas em si, busque novos talentos, se reinvente, procure por detalhes em si que tu nunca tinhas percebido e avalie-os. Sempre falo isso, e pode parecer besteira sempre que falo - mas juro que não é - tente listar mentalmente, ou no bloco de notas mesmo, atributos seus, sejam eles físicos, mentais ou de habilidade, que te agradam e que tu consegues se perceber naquilo, em que tu consegues identificar sua unicidade naquilo. Aos pouquinhos, você vai ser capaz de ver a beleza naquilo que tu tens em ti ao invés de procurá-la em outras pessoas e em padrões inalcançáveis. 

Não espere de si que, de uma hora para outra, tu acorde e olhe para o espelho e pense “Meu, eu amo meu corpo, amo minha aparência, me amo demais.” porque, do mesmo jeito que não amar a si é uma construção (social), reconstituir o amor próprio é uma desconstrução: nascemos e vivemos a infância geralmente adorando chamar atenção, não achamos nada de errado conosco, adoramos câmeras e elogios e, com o passar do tempo, devido a experiências ou forças sociais esmagadoras da sociedade da beleza inatingível, vamos construindo barreiras que nos impedem de apreciar nossas próprias belezas. Que tal tentar outra técnica também? Consiste em, ao invés de tentar mudar as coisas negativas por coisas positivas de uma hora para outra, evitar as negativas e tentar iniciar o processo com afirmações mais neutras, porém gentis. Tipo assim: ao invés de “eu odeio meu corpo”, “meu corpo me leva para lugares legais, carrega tudo que sou, cresce comigo e é minha morada, cada dobrinha na minha barriga e cada marca carregam minha história”, substituir o “eu sou inútil, não sou importante” por “coloco água nas plantinhas semanalmente, sou eu quem mantenho meu gatinho quentinho e alimentado, ajudo minha família e amigos quando precisam e isso significa alguma coisa para eles e para mim também”, trocar o “não valho a pena” por “acredito no valor individual de cada pessoa, todas elas valem a pena e merecem respeito básico, e eu, como pessoa, também mereço.” Essas pequenas mudanças de hábito e consciência podem te ajudar a treinar a auto gentileza e ajudar a abandonar pensamentos autodepreciativos, podem te ajudar a se encontrar em si mesmo e nas coisas que você faz que demonstram toda sua beleza externa e interna e tu nem se dá conta.

Ainda na lógica de prestar atenção nas pequenas coisas, um tempo atrás, um anjo postou no Twitter uma “sequência do amor próprio” e, sem brincadeira, é tão sucinto, porém tão forte que quando li pela primeira vez não consegui segurar as lágrimas. Está em inglês e vou traduzir aqui também:

Olhe para suas mãos: elas já acariciaram muitos bichinhos fofos e secaram
suas lágrimas...
Olhe para os seus pés: eles já te levaram para seus lugares favoritos que são capazes de te tirar sorrisos e já te tiraram de lugares ruins também...
Olhe para sua barriga: lembre-se daqueles dias em que ela estava cheia e quentinha com suas comidas favoritas...
Olhe para suas pernas: elas te mantiveram em pé quando você pensou que não era forte suficiente para aguentar o peso do corpo...
Olhe para seus olhos: eles já viram tantos lugares e pessoas incríveis…
Olhe para sua boca: ela já disse coisas muito legais para pessoas que fizeram elas sorrirem...

Seu corpo estava aí desde o primeiro dia, por favor ame-o porque você já é amado por ele.


E, pare para pensar, você realmente esteve consigo mesmo desde sempre e sempre vai estar, todas as vezes que tu achou que não ia aguentar tu aguentou, você sobreviveu a 100% dos seus dias ruins e, acredite ou não, tu passou por tudo isso que passou sozinho, aguentou o peso dos seus maiores medos e monstros nos seus próprios ombros sozinho e merece reconhecimento por isso. Tu sempre foi você e sempre vai ser você até o último dia da sua existência, e isso precisa te confortar e não te assustar, tu tens um compromisso moral consigo de fazer o possível para fazer essa jornada ser pacífica e gentil, você deve isso para si mesmo que aguenta todos os perrengues que aguenta sem desistir. Lembre-se de que todas as vezes que tu se ver sozinho, sua única companhia é você mesmo, e sempre vai ser assim, você consigo mesmo e por si mesmo. Quando que tu começaste a acreditar que aquilo que tu és está errado? Quando e por que ser quem somos se tornou algo que nos culpamos tanto por fazer? Você é único nesse mundo, quem você é e as cicatrizes que carrega são parte de um processo diário de construção da sua identidade, tudo que tu passa deixa marcas em ti, tu e teu corpo são um grande livro que estão sendo escritos a cada dia que passa, só você passou as coisas que passou, a beleza que carrega é única e merece ser admirada, merece ser exaltada. Você é digno de se amar, é digno de viver em paz dentro de si, é digno de conseguir amar aquilo que construiu com o tempo e com tudo que já passou, é digno de se permitir se apreciar.

Quero que pense na sua casa, no seu quarto e no conforto que te traz estar nesses lugares. Seu corpo e sua mente são suas moradas, eternas e exclusivas, não podem ser zonas de guerra, devem ser confortáveis, acolhedores, quentinhos. Você merece uma morada em que se sente aconchegado com toda sua bagagem subjetiva, merece um espaço em que se sinta bem e que possa viver em paz consigo, possa apreciar as belezas dos outros - sem diminuir sua própria - e a sua e possa reconhecer as próprias vitórias e virtudes. Você merece. 

Antes do último método, que é o mais difícil mas que pode revolucionar sua relação com o espelho, é necessário que seja dito que nem só de “faça isso” vive o ser humano, tenho também alguns “não faz isso, criatura”, como por exemplo: meu, é sério, evite ao máximo fazer comparações com outras pessoas. Sei que às vezes é automático e que há situações em que terceiros já cumprem o papel de nos comparar com outros, mas tu não é ninguém além de si mesmo, tu tens suas próprias habilidades, defeitos, qualidades, características, seu próprio tempo e história e o que te faz diferente e tão especial é pelo fato de você ser você mesmo, do jeitinho que é mesmo, tu não é seu primo que passou em Harvard nem a blogueira que tem a barriga chapada, tens que procurar a felicidade naquilo que realmente é.

Se proteja, as redes sociais podem realmente destruir autoestimas, pare de seguir aquelas pessoas que fazem você se sentir mal e se questionar, siga pessoas reais com corpos reais - de preferência parecidos com o seu -, tenho certeza que vai te ajudar muito no processo ver que tu não é o único no mundo com um corpo diferente daquele das revistas, boletos no final do mês e acne causada pelo estresse.

Não se permita passar por situações em que pessoas te tratam com qualquer coisa a menos daquilo que você realmente merece, se afaste das pessoas que te puxam para baixo para se elevarem, que fazem você se questionar do seu valor, da sua inteligência e beleza, elas não valem a pena e vão só atrapalhar seu processo, tu sabe que merece mais, sai dessa, hein! Cerque-se de pessoas que fazem você se sentir incrível e bem, que comemorem suas conquistas, que te incentivam a correr atrás de novas conquistas, que te fazem acreditar no seu potencial e na sua beleza, que te exaltam e te falam para tomar água.

E como tu pode perceber, falei demais já, mas para finalizar preciso que você escute sobre esse método que achei por aí na internet e pondere sobre ele: chama-se técnica do espelho. Sim, o temido espelho. Lembra que falei de ir passinho a passinho lá em cima, né? Então, esse já é um passo grande eu diria, tanto que pode causar incômodo e desconforto nas primeiras vezes, mas acho que vale a pena insistir. Essa técnica consiste em tu tirar um instante da sua vida para realmente se olhar no espelho. Parece bobo, né? É corriqueiro olhar para o espelho para checar o cabelo ou o batom, mas dessa vez você vai se olhar no espelho de verdade, olhar no fundo dos olhos daquela pessoa do outro lado. Tem uma intenção, não é um olhar trivial. De início, tente isso, se olhe e se perceba, gaste um tempo se vendo naquela pessoa, sinta toda sua humanidade refletir naquele espelho. Depois, tente isso: se pergunte coisas do tipo, “Quem é você? o que eu estou fazendo com você?”, tente ter uma conversa honesta com aquela pessoa que você vê, “Você existe. Seu nome é x”. Talvez seja estranho, pode parecer uma outra pessoa falando contigo, mas insista, até você conseguir dizer coisas gentis como “Eu te aceito. Eu vou cuidar de você e te proporcionarei aquilo que merece” ou “Vai ficar tudo bem, sinto orgulho de você. Eu te admiro.” e, até quem sabe, “Você é especial. Eu te amo”. Sei que soa muito esquisito, mas vale a pena tentar, de verdade, quando você finalmente consegue dizer palavras reconfortantes de forma honesta e verdadeira para aquela pessoa que você vê é até difícil não se emocionar, é a sensação de receber um grande abraço quentinho de si mesmo, de se achar dentro de si, de esperança. 

É isso. Em linhas gerais: vá no seu tempo, não dê passos maiores que suas pernas, seja gentil consigo nesse processo, tente perceber sua beleza por ela mesma e não tentando achar a beleza que você vê nos outros em si, tu és seu melhor amigo e sua morada e merece ser carinhoso e amar a si, ache os melhores métodos para ti que te ajudam a estimular o amor próprio, certifique-se que o ambiente externo e as circunstâncias sejam favoráveis para você e, por último porém não menos importante, lembre-se de que, antes de qualquer coisa, tu é uma pessoa incrível, sua beleza é especial e tu merece todo o amor do mundo. Thanks for coming to my ted talk. 


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Espero que o que foi dito aqui tenha servido de algo para ti, meu anjo, e quero que saiba que tenho orgulho de ti, obrigada por ler e por ser tão especial, tu és incrível e merece ser celebrado. Agradeço a companhia e te espero aqui, de novo, dia 15 de setembro. Dá uma conferida na minha última postagem, clicando aqui. xoxo.



Postagem escrita por Giullia, colunista desse site, estudante e escritora de diário. Graduanda em Ciências Sociais. Confira todas as postagens dessa coluna clicando aqui.

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